BrunoF
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Boas!
Depois da tão fantástica viagem à Índia, deixo aqui a minha contribuição para este espaço com texto e fotos. (uma nota, as fotos ainda não estão tratadas, não tivemos muito tempo para isso)
Foram 15 dias em terras indianas, num total de 18 dias de viagem - pernoitámos e ficámos a conhecer o centro histórico de Bruxelas e passámos 2 dias em viagens intercontinentais.
Começando pelo final...
Custos da viagem (para 2 pessoas):
Uma viagem há muito desejada, com vários meses de planeamento e para um continente (e país) tão diferente do nosso causa sempre alguma ansiedade e taquicardia na hora da partida. Era assim que nós os quatro, dois jovens casais, nos sentíamos na porta de embarque do aeroporto de Bruxelas. Com a entrada no avião vem o primeiro choque cultural. Vemo-nos rodeados por todos os lados dos mais variados tipos de cores, olhares, caras, roupas e cheiros. Tudo demasiado diferente da nossa realidade, a viagem de 8 horas era o nosso tubo de ensaio.
Ao sair do avião, todos esperávamos o contacto com o muito falado “cheiro a Índia”, mas tudo o que apanhámos foi WC impecavelmente asseados, pessoas educadas e ar condicionado, até que saímos do tecto do aeroporto e sentimos pela primeira vez o olhar indiano, completamente dominado por homens, taxis e auto-riquexós – os tuc-tuc’s existem, mas na quase vizinha Tailândia.
Dias 1 e 2: Delhi
O despertar para o primeiro dia de aventura em terras indianas foi um misto de medo e apreensão. Semblantes carregados e receio em ultrapassar as portas do hotel. Incompreensível? Talvez. Mas aquilo que se nos apresentava à frente representava uma experiência completamente diferente de tudo o que já vivenciámos. Muita pobreza, muito lixo e muita, mas mesmo muita gente por todo o lado.
Delhi é uma cidade enorme dividida em duas: a zona antiga (Old Delhi), dominada por habitações de predomínio muçulmano e ruas apertadas, desordenadas e caóticas; e a zona mais recente (New Delhi), construída e projectada pelos ingleses quando fizeram desta a capital da Índia, em que tudo tem um registo imperialista, com enormes e maciços edifícios e ruas excelentes para paradas reais ou militares. Conta com cerca de 18 milhões de habitantes e pelo facto de ser muito grande tem pontos de interesse distantes uns dos outros, pela que a nossa experiência na cidade mais poluída do mundo foi quase como viver dentro de uma bolha com ar condicionado. Sentimos pouco do ambiente da cidade, respirámos pouca cultura, porque muitas vezes era sair do carro, tirar umas fotos e voltar a entrar. Assim foi com o Lotus Temple e o Red Fort, pela que a experiência não foi grande coisa nestes monumentos.
A compensação veio com a visita à última residência de Gandhi, onde viria a morrer assassinado. O local funciona como um museu com os imensos momentos marcantes da sua vida, e assim ficámos a perceber muitos dos motivos que o levaram a ser um dos heróis do século passado e o grande responsável pela independência da Índia.
Qutab Minar e Jama Masjid (a maior mesquita do país), dois marcos da presença islâmica em terras indianas, são locais muito interessantes, principalmente o primeiro que alberga uma série de ruínas que remontam à localização original de uma das 7 cidades que deram origem à Delhi actual. Salvo as devidas diferenças, é uma espécie de Roma Antiga em ponto pequeno e islâmico.
O Templo de Akshardam, o maior templo hindu construído há meia dúzia de anos e que tem uma beleza ímpar, cheio de detalhes e motivos para todos os gostos – pena não ser permitido entrar com qualquer tipo de tecnologia e aparelho electrónico, pelo que não há fotos para documentar –, é um portento arquitectónico e onde dá para sentir um cheirinho daquilo que representa o hinduísmo, sendo fácil perder umas horas a vaguear à sua volta e a apreciar os diferentes motivos e esculturas que nos vão aparecendo. Absolutamente imperdível!
O jantar com o representante da agência foi fundamental para nos ajudar a libertar daquele medo intrínseco do desconhecido. Naquele serão, aprendemos muito sobre os indianos e a sua cultura e aprendemos uma das coisas mais importantes: comer como nativos! Pão nan, carne, vegetariano, molhos, arroz... e tudo com as mãos! Aliás, esta é a chave para uma refeição tipicamente indiana.
A despedida de Delhi representou o encontro com uma nova realidade logo na estação de comboios que nos levaria durante a noite até Varanasi, mais decadente e mais humana. A estação estava repleta de gente em todas as condições possíveis e imaginárias, ali havia de facto um pouco de tudo o que há na Índia, e isso foi um grande baque para nós.
Dias 3 e 4: Varanasi
A chegada à cidade sagrada foi antecedida pela observação da realidade da agricultura e das terras rurais na região. Ali, os enormes campos não são cultivados com o auxília de máquinas agrícolas, mas antes pela força bruta e engenho de homens, mulheres e crianças.
A saída da estação e a entrada na cidade representaram o nosso primeiro real contacto com uma população vibrante, recheada de carros, motas, vacas e pessoas, tudo numa amálgama de sensações que a tornaram a experiência alucinante e especial. Deambular pelas povoadas e estreitas ruelas da cidade, dar de caras com dezenas dos milhares de tempos que existem ao virar de cada esquina e, no meio daquele labirinto, chegar finalmente ao Rio Ganga é uma verdadeira apoteose sensorial, ainda para mais quando sabemos que estamos à frente daquilo que de mais sagrado existe para os indianos hindus.
Ao anoitecer, presenciámos a Cerimónia Aarti, realizada até 5 vezes por dia como homenagem e agradecimento aos deuses por mais um dia. Está envolta num ritual místico repleto de incensos, oferendas ao sagrado rio, velas e muito sinos a retocar, sendo que tudo conjugado acaba por nos envolver naquele ambiente teoricamente só deles.
Mas o momento alto da experiência em Varanasi terá sempre que ser o nascer do sol a bordo de um barco a remos no meio do Ganges, observando os 84 ghats (resultado da multiplicação dos 7 chakras e dos 12 símbolos hindus) a ganhar vida com as pessoas a banharem-se e a lavarem a roupa, com aprendizes de sacerdotes na sua aula matinal de yoga, com as cores vibrantes das fachadas a serem reflectidas pelos primeiros raios de sol e com os rituais fúnebres e as cremações que vão ocorrendo a qualquer hora do dia. Tudo é muito intenso e tudo nos ajuda a perceber melhor o seu esoterismo.
Foi também em Varanasi, concretamente em Sarnath, que tivemos contacto com Buda e a sua forma de vida, guiada pela meditação e pela ausência de posses. O templo a ele dedicado conta com uma estátua em ouro, réplica da original colocado num museu da zona, mas o mais interessante acabam por ser as pinturas (feitas recentemente por um japonês) retratando as principais fases da sua vida e a área envolvente onde se podem encontrar as rezas escritas em bandeiras levadas pelo vento (como se observa no Tibete, por exemplo) e os mantras.
“A vida é um nó. Depende de cada um desenrolá-lo e apreciar a vida.”
Com a realização de um casamento hindu no nosso hotel pudemos vivenciar um pouco a loucura e extravagância que tal cerimónia representa para os indianos, com vestidos e roupas espampanantes e muitos diamantes por todo o lado, para além da já esperada música hindi.
À chegada à estação para mais uma viagem nocturna rumo a Agra, a opinião era unânime: ia ser difícil superar os momentos vividos em Varanasi, por tudo o que aprendemos sobre o hinduismo e por toda a carga emocional e misticismo que por lá se respira.
Depois da tão fantástica viagem à Índia, deixo aqui a minha contribuição para este espaço com texto e fotos. (uma nota, as fotos ainda não estão tratadas, não tivemos muito tempo para isso)
Foram 15 dias em terras indianas, num total de 18 dias de viagem - pernoitámos e ficámos a conhecer o centro histórico de Bruxelas e passámos 2 dias em viagens intercontinentais.
Começando pelo final...
Custos da viagem (para 2 pessoas):
- Passagens aéreas: €1100 (Brussels Airlines + Jet Airways)
- Vistos: €110 (já com portes de envio)
- Vacinação e medicação: €50 (Vacina Hepatite A e kit de viajante)
- Agência (Grand Travel Planner India): €1387 (inclui viagens internas de comboio x2 + avião x2 + carro, estadia com PA, guias e entradas nos monumentos)
- Gastos adicionais: €370 (refeições e souvernirs)
- Total: €3017
Uma viagem há muito desejada, com vários meses de planeamento e para um continente (e país) tão diferente do nosso causa sempre alguma ansiedade e taquicardia na hora da partida. Era assim que nós os quatro, dois jovens casais, nos sentíamos na porta de embarque do aeroporto de Bruxelas. Com a entrada no avião vem o primeiro choque cultural. Vemo-nos rodeados por todos os lados dos mais variados tipos de cores, olhares, caras, roupas e cheiros. Tudo demasiado diferente da nossa realidade, a viagem de 8 horas era o nosso tubo de ensaio.
Ao sair do avião, todos esperávamos o contacto com o muito falado “cheiro a Índia”, mas tudo o que apanhámos foi WC impecavelmente asseados, pessoas educadas e ar condicionado, até que saímos do tecto do aeroporto e sentimos pela primeira vez o olhar indiano, completamente dominado por homens, taxis e auto-riquexós – os tuc-tuc’s existem, mas na quase vizinha Tailândia.
Dias 1 e 2: Delhi
O despertar para o primeiro dia de aventura em terras indianas foi um misto de medo e apreensão. Semblantes carregados e receio em ultrapassar as portas do hotel. Incompreensível? Talvez. Mas aquilo que se nos apresentava à frente representava uma experiência completamente diferente de tudo o que já vivenciámos. Muita pobreza, muito lixo e muita, mas mesmo muita gente por todo o lado.
Delhi é uma cidade enorme dividida em duas: a zona antiga (Old Delhi), dominada por habitações de predomínio muçulmano e ruas apertadas, desordenadas e caóticas; e a zona mais recente (New Delhi), construída e projectada pelos ingleses quando fizeram desta a capital da Índia, em que tudo tem um registo imperialista, com enormes e maciços edifícios e ruas excelentes para paradas reais ou militares. Conta com cerca de 18 milhões de habitantes e pelo facto de ser muito grande tem pontos de interesse distantes uns dos outros, pela que a nossa experiência na cidade mais poluída do mundo foi quase como viver dentro de uma bolha com ar condicionado. Sentimos pouco do ambiente da cidade, respirámos pouca cultura, porque muitas vezes era sair do carro, tirar umas fotos e voltar a entrar. Assim foi com o Lotus Temple e o Red Fort, pela que a experiência não foi grande coisa nestes monumentos.
(Vista do palácio presidencial em direcção ao India Gate. Bem perceptível a largura das avenidas e... poluição)
(India Gate, construído em homenagem aos soldados indianos que lutaram pelos britânicos na I Guerra Mundial)
(Lotus Temple, templo que contempla as mais variadas religiões. Basicamente é um local de meditação)
A compensação veio com a visita à última residência de Gandhi, onde viria a morrer assassinado. O local funciona como um museu com os imensos momentos marcantes da sua vida, e assim ficámos a perceber muitos dos motivos que o levaram a ser um dos heróis do século passado e o grande responsável pela independência da Índia.
(A eternização dos últimos passos de Gandhi)
(Gongo da Paz Mundial)
Qutab Minar e Jama Masjid (a maior mesquita do país), dois marcos da presença islâmica em terras indianas, são locais muito interessantes, principalmente o primeiro que alberga uma série de ruínas que remontam à localização original de uma das 7 cidades que deram origem à Delhi actual. Salvo as devidas diferenças, é uma espécie de Roma Antiga em ponto pequeno e islâmico.
(Qutab Minar)
(Maior mesquita muçulmana na Índia, com capacidade para 20 mil pessoas)
O Templo de Akshardam, o maior templo hindu construído há meia dúzia de anos e que tem uma beleza ímpar, cheio de detalhes e motivos para todos os gostos – pena não ser permitido entrar com qualquer tipo de tecnologia e aparelho electrónico, pelo que não há fotos para documentar –, é um portento arquitectónico e onde dá para sentir um cheirinho daquilo que representa o hinduísmo, sendo fácil perder umas horas a vaguear à sua volta e a apreciar os diferentes motivos e esculturas que nos vão aparecendo. Absolutamente imperdível!
O jantar com o representante da agência foi fundamental para nos ajudar a libertar daquele medo intrínseco do desconhecido. Naquele serão, aprendemos muito sobre os indianos e a sua cultura e aprendemos uma das coisas mais importantes: comer como nativos! Pão nan, carne, vegetariano, molhos, arroz... e tudo com as mãos! Aliás, esta é a chave para uma refeição tipicamente indiana.
A despedida de Delhi representou o encontro com uma nova realidade logo na estação de comboios que nos levaria durante a noite até Varanasi, mais decadente e mais humana. A estação estava repleta de gente em todas as condições possíveis e imaginárias, ali havia de facto um pouco de tudo o que há na Índia, e isso foi um grande baque para nós.
Dias 3 e 4: Varanasi
A chegada à cidade sagrada foi antecedida pela observação da realidade da agricultura e das terras rurais na região. Ali, os enormes campos não são cultivados com o auxília de máquinas agrícolas, mas antes pela força bruta e engenho de homens, mulheres e crianças.
A saída da estação e a entrada na cidade representaram o nosso primeiro real contacto com uma população vibrante, recheada de carros, motas, vacas e pessoas, tudo numa amálgama de sensações que a tornaram a experiência alucinante e especial. Deambular pelas povoadas e estreitas ruelas da cidade, dar de caras com dezenas dos milhares de tempos que existem ao virar de cada esquina e, no meio daquele labirinto, chegar finalmente ao Rio Ganga é uma verdadeira apoteose sensorial, ainda para mais quando sabemos que estamos à frente daquilo que de mais sagrado existe para os indianos hindus.
(Templo de Shiva, situado no campus universitário)
(Os típicos sarees)
Ao anoitecer, presenciámos a Cerimónia Aarti, realizada até 5 vezes por dia como homenagem e agradecimento aos deuses por mais um dia. Está envolta num ritual místico repleto de incensos, oferendas ao sagrado rio, velas e muito sinos a retocar, sendo que tudo conjugado acaba por nos envolver naquele ambiente teoricamente só deles.
Mas o momento alto da experiência em Varanasi terá sempre que ser o nascer do sol a bordo de um barco a remos no meio do Ganges, observando os 84 ghats (resultado da multiplicação dos 7 chakras e dos 12 símbolos hindus) a ganhar vida com as pessoas a banharem-se e a lavarem a roupa, com aprendizes de sacerdotes na sua aula matinal de yoga, com as cores vibrantes das fachadas a serem reflectidas pelos primeiros raios de sol e com os rituais fúnebres e as cremações que vão ocorrendo a qualquer hora do dia. Tudo é muito intenso e tudo nos ajuda a perceber melhor o seu esoterismo.
(Um dos ghats ao nascer do sol, com gente a banhar-se nas águas sagradas)
(Um dos imensos crematórios)
(Nascer do sol. Palavras para quê?)
Foi também em Varanasi, concretamente em Sarnath, que tivemos contacto com Buda e a sua forma de vida, guiada pela meditação e pela ausência de posses. O templo a ele dedicado conta com uma estátua em ouro, réplica da original colocado num museu da zona, mas o mais interessante acabam por ser as pinturas (feitas recentemente por um japonês) retratando as principais fases da sua vida e a área envolvente onde se podem encontrar as rezas escritas em bandeiras levadas pelo vento (como se observa no Tibete, por exemplo) e os mantras.
(Mantras)
(As ruínas do local do 1º sermão de Buda)
Com a realização de um casamento hindu no nosso hotel pudemos vivenciar um pouco a loucura e extravagância que tal cerimónia representa para os indianos, com vestidos e roupas espampanantes e muitos diamantes por todo o lado, para além da já esperada música hindi.
À chegada à estação para mais uma viagem nocturna rumo a Agra, a opinião era unânime: ia ser difícil superar os momentos vividos em Varanasi, por tudo o que aprendemos sobre o hinduismo e por toda a carga emocional e misticismo que por lá se respira.
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